domingo, 8 de agosto de 2010

A noiva

“Os noivos convidam para a cerimônia de seu casamento a realizar-se no dia...” dizia o convite que Núbia revisava na gráfica. Ficaram como ela esperava, agora era começar a maratona da entrega dos convites de casamento que deveriam ser entregues em mãos, conforme manda a etiqueta, e como ela queria carinhosamente cumprir a regra.
Convites impressos, Núbia segue para casa pensando em todos os detalhes para o grande dia, afinal, nos pensamentos de uma noiva só há lugar para o casamento. Começa a refletir como passou rápido o noivado, aliás, como passou rápido toda a sua vida, desde a infância, quando brincava de casar suas bonecas Barbie com os seus “Bobs” e “Kens”, depois, quando adolescente, achava que o primeiro garoto que a beijasse seria aquele com quem ela se casaria, teria muitos filhos e seria feliz para sempre! Todos os outros fatos que vivenciara até aquele momento significavam tão pouco perto do grande acontecimento que viria. Sua vida começaria agora...
Tantos detalhes deveriam estressá-la, mas, ao contrário, enchiam-na de uma delicada felicidade, suave como o véu que cobriria os seus ombros dentro de trinta dias. Saiu da gráfica e depositou delicadamente os convites no banco de trás de seu carro, como quem coloca para dormir seu bebê recém-nascido. Em seus pensamentos todos os detalhes eram repassados para certificar-se se estava tudo em ordem: “checar a lista de convidados, o bolo, os doces... e o vestido será que é esse mesmo? E o véu? Longo ou curto? Usarei véu? Sim, claro, foi assim que imaginei desde menina. Uma noiva que se preze tem de ter véu e grinalda! Será que me esqueci de convidar alguém? Sempre se esquece de alguém importante... Preciso reservar o hotel, lua-de-mel, passagem. Os documentos para o cartório. Mudarei meu nome de família? Não sei, trata-se de minha identidade, minha história... Mas minha história recomeça agora... Buquê, brincos, arranjos, cor da festa, o carro da noiva, o cabelo, a maquiagem, as luzes, a Igreja, a Ave Maria de Gounod, já posso ouvir, Ave Maria... luzes, tanta luz, o branco, o vestido, branco... tudo branco... De repente, a claridade da paz.
Os policiais encontraram os convites de casamento espalhados pela rodovia. O noivo sabia que o maior desejo da amada era casar-se de branco. Então, decide realizar o último desejo da amada, mesmo que não fosse ele quem a desposasse. E vestida de noiva, ela deixou-se desposar pela eternidade.
Aline Maria Magalhães
Outubro de 2009.

3 comentários:

  1. A arte imitando a vida? Quase... Ainda bem!

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  2. Sim, o pior é que a inspiração foi de um caso real que aconteceu no ano passado e que mexeu muito comigo...

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  3. E agora mexe com todos que leem.
    *Vaidade de vaidades, diz o pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade.* Eclesiastes 1:2

    A explicação bíblica para esse versículo é que a morte dos seres humanos torna inúteis os feitos e os desejos das pessoas que criam as culturas terrenas.

    Mas é tão bom sonhar...
    Jefhcardoso do
    http://jefhcardoso.blogspot.com

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