terça-feira, 23 de julho de 2013

Com Roberto Drummond


Recordo-me da primeira vez que tive um encontro com um verdadeiro escritor. Eu era apenas uma adolescente cheia de sonhos e de uma vida a acontecer, que estava empolgada com meu primeiro prêmio de crônicas e poesias que havia ganhado numa seletiva local. Foi então que conheci Roberto Drummond em um evento literário “O escritor por ele mesmo”. Ao final do encontro, enchi-me de coragem e falei para ele que eu escrevia algumas coisinhas e que gostaria muito de ser escritora um dia. Ele me autografou um CD de leituras de trechos de sua obra dizendo: “Para Aline, esperando um livro seu”. Eu realmente saí daquele evento acreditando que um dia eu levaria para ele uma publicação minha e diria que ele me inspirou a acreditar.  Mas ele já faleceu há muitos anos e eu deixei de acreditar em minha publicação.
Com o passar dos anos, a gente deixa de acreditar nos sonhos e fica cada vez mais crítico quanto ao que fazemos. Quanto mais eu estudei literatura, menos literatura produzi. Quanto mais leituras eu fiz, mas vi como meus escritos se distanciam da obra de arte. E por muitos anos neguei a folha em branco.
Mas a necessidade de escrever incomoda e cresce dentro do escritor. Eu chamo de uma pulsão narrativa vontade de narrar, de contar, mesmo que não seja apresentado a ninguém. É como uma necessidade vital de libertação, de rememoração, de conhecimento de si, dos outros, do mundo, de organizar suas memórias, ou de criar memórias do gostaria que tivesse sido a vida. É quase patológica a necessidade de escrever.
Essa pulsão é o que nos faz superar o medo da publicação. Porque publicar é expor-se à crítica, e o ser humano tende a uma necessidade imensa de aprovação. Eu queria ter tido a aprovação de Roberto Drummond e, naquele dia, ele aprovou-me previamente, muito antes de ter lido qualquer coisa que eu tivesse escrito. Ele aprovou o meu sonho, a minha coragem, o meu desejo de escrever.  
O que impediu meu sonhos de florescer foram meus medos. Mas nenhum de meus medos supera a angústia do silêncio. Descobri assim que, na verdade, o que me assusta não é o medo da desaprovação, da exposição dos sentimentos de nossa história pessoal. O que mais me assusta é o indizível, toda espécie de sensação que não encontra nas palavras substância suficiente para expressá-la. O que me assusta é o silêncio.

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