segunda-feira, 31 de maio de 2010

Poema antigo

A doce espera do amor!
Os minutos são eternos,
Longos espaços para a saudade morar.

Meu coração abriga o desejo
Do teu retorno aos meus braços,
Reviver nossa paixão!

A vida aqui é monótona,
O tempo parece não passar,
Guardado do futuro, nestas frias montanhas.

Resta apenas a lembrança tua
Doce e antiga
Como flor guardada há anos dentro de um livro.

(Aline Maria Magalhães,
08 julho 2004)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Crônica - Estrangeira


Voltar às origens nos faz perceber o quanto a distância nos modificou. Aquele que deixa sua cidade natal, seu berço, sente uma saudade imensa de detalhes do cotidiano – broa de fubá, doce de leite caipira, pamonha de feira, biscoito de polvilho... Doce sabor de infância! Quentão de festa junina, cocada de festa de São Benedito, garapa da praça... A rua enfeitada pelas quaresmeiras em flor, o colorido dos ipês e seu tapete de flores efêmeras caídas ao chão. O frescor da água mineral tomada direto da mina.
Quando percebemos que todas essas coisas que no passado fizeram parte do cotidiano agora se tornaram especiais, pedaços de memória, doces lembranças, aí a gente percebe que se tornou um pouquinho estrangeiro, porque olha sua casa com olhos de visitante, de turista, que admira aquilo que é diferente, exótico, o que não encontra igual em sua terra.
E como também nos sentimos estrangeiros na terra adotiva, percebe-se que se é estranho em todo lugar, e que já não há mais um lugar para se chamar de seu.
Perde-se a casa, um pouco da identidade, e vive-se sempre à espera de um retorno – mas pra onde?


“O homem que acha a sua pátria agradável não passa de um jovem principiante; aquele para quem todo solo é como o seu próprio já está forte; mas só é perfeito aquele para quem o mundo inteiro é como um país estrangeiro”. 
(Ideal de 
Hugues de Saint-Victor, formulado no século XII. In.: 
TODOROV, 1988, p.245)


quarta-feira, 26 de maio de 2010

Microconto

Os microcontos vêm ganhando força na internet, principalmente com a nova onda do twitter. São contos escritos, em geral, entre 140 a 150 caracteres. O grande desafio é a concisão da narrativa, contar uma história da maneira mais sucinta possível.
É um exercício interessante!
O meu escritor favorito de microcontos é o Carlos Seabra(No twitter: @microcontos/ Blog: http://cseabra.utopia.com.br/microcontos/)
A ABL lançou um concurso entre os "twitteiros", e estou concorrendo com o seguinte microconto:

O mineiro queria conhecer o mar. Decidiu mudar-se, mas, ao comprar as malas, conheceu Marina e afogou-se em seus olhos azuis.



terça-feira, 25 de maio de 2010

Soneto de papai

Hoje lembrei-me do primeiro soneto que eu decorei em minha vida, de autoria de meu próprio pai!
É impressionante que passaram-se mais de 15 anos e eu nunca me esqueci, talvez devido à sonoridade fácil dos decassílabos, ou as rimas perfeitas.
Claro que quando decorei eu ainda era criança para observar se era ou não um soneto e qual a seria a qualidade dele! Para mim, era a poesia do papai e isso já era suficiente!
Pena que meu pai se deixou levar pelo toque do tempo e se desfez de tantos outros poemas. Só restou este, salvo pela memória de infância, que, infelizmente, não guardou o título da poesia.
Mas aí segue o que me lembro:

O gigante que cresce em minh’alma

Me dispõe a procurar com ardor

Um pouco de paz, um pouco de calma

Nas sendas deliciosas do amor.

Amar é a seiva natural da vida

É como beber o vinho que anima

Na alma gêmea da pessoa querida

Sendo feliz, assim, nessa doce sina.

O tempo passa e urge a aproveitar

Cada segundo, sugado para amar

Guardando de bom no coração

Guardando de bom tudo, tudo:

Carinho, amor, olhar mudo

O beijo ardente da paixão.

Leite Derramado


Começo hoje indicando a literatura de Chico Buarque que vem surpreendendo a cada nova publicação. Lendo seus quatro livros: Estorvo (1991), Benjamin (1995), Budapeste (2004) e Leite Derramado (2009), vemos claramente a evolução do escritor, pois cada narrativa parece superar a anterior, e o artista atinge seu auge (por enquanto!) com Budapeste.
Todos os três primeiros livros renderam roteiros para o cinema, mas, sem dúvida, o filme de maior sucesso foi Budapeste. Este, é uma adaptação do livro, e, portanto, quem leu o livro e vê o filme esperando ver exatamente o que encontrou nas letras de Chico vai com certeza se decepcionar. O livro é muito superior ao filme, como quase sempre acontece!
Pode ser que em breve também veremos Leite Derramado nos cinemas, afinal, o nome Chico Buarque já vende por si só!
De todos os quatro, Budapeste parece, ao meu ver (pois não é a opinião de muitos críticos) o melhor e Leite Derramado, apesar de seu inegável valor literário, não consegue superar a arquitetura magistral da narrativa de Budapeste.
No entanto, é dele que quero citar um trecho hoje, que mostra o prazer de ler um poeta/músico escrevendo um romance. Mesmo que a história não seja tão inovadora assim, as felizes escolhas poéticas do escritor e seus narradores apaixonantes e complexos, conferem ao leitor um prazer imenso ao mergulhar em sua literatura:

"Com o tempo aprendi que o ciúme é um sentimento para proclamar de peito aberto, no instante mesmo de sua origem. Porque ao nascer, ele é realmente um sentimento cortês, deve ser logo oferecido à mulher como uma rosa. Senão, no instante seguinte ele se fecha em repolho, e dentro dele todo o mal fermenta." Chico Buarque - Leite Derramado

Sobre o livro, a Globo News fez um especial que vale a pena ver: Segue o link para o vídeo do programa, com leitura de trechos do livro pelo próprio autor.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Pra começar

O título "Pulsão narrativa" quer explicar o que me leva hoje a abrir um blog. Para quem escrever? Quem vai ler? Não são essas questões que movem essa nova "blogueira" a escrever, mas uma "pulsão narrativa" que é incontrolável!
A pulsão de narrar, para leigos como eu, pode ser entendida como algo que nos impulsiona a narrar, contar e ouvir. É a necessidade que o grande Riobaldo de Grande sertão: veredas sente de contar sua história a fim de revivê-la, revisitá-la, compreendê-la, e é a mesma necessidade que todos nós também sentimos de dizer algo, seja em blogs, microblogs ou diários.
A internet nos possibilita essa facilidade de externar essa necessidade narrativa e partilhar com quem queira nossos pensamentos acerca de qualquer assunto.
Aqui pretendo partilhar pensamentos a respeito de crítica literária, alguns textos inéditos de minha autoria (poesia, microcontos e contos), sugestões bibliográficas, enfim, o que a pulsão de narrar me motivar no dia!
A quem se interessar, seja bem-vindo e dê sua opinião!