terça-feira, 7 de junho de 2011

Tudo se perde

Não existe lugar seguro.
Tudo se perde no tempo.
Cadernos escritos se perderam
como as poesias que escrevi no vento.

Os escritos à lápis se desbotam
e se tornam apenas fantasmas.
As fotos de infância desapareceram
como em minha memória gasta.

Alguns laços afetivos se desfizeram,
outros se decompõem aos poucos,
como peças de algodão amarelado
que se desmancham com o passar das décadas...

Tentei modernizar-me,
e digitalizar os escritos e ideias no computador.
Mas os arquivos também se corrompem
e se perdem num espaço cibernético incompreensível.

Nas gavetas, no espaço virtual ou na memória
tudo se perde,
nada resiste ao tempo.
Por isso escrevo para o momento presente.

24 de novembro de 2010.

quinta-feira, 31 de março de 2011

O que me falta

A solidão me persegue a vida toda. Apaixonada por mim, não me deixa onde quer que eu vá. Mesmo quando encontrei um verdadeiro amor e achei que, tendo alguém comigo todos os dias de minha vida, eu jamais estaria só, ainda assim, ela encontrou forças para me arrebatar.

E fez uma troca comigo: consegui um amor e perdi todos os amigos. Ela me exilou na mais bela cidade do mundo, para que eu a encontrasse como minha companheira, e dela bebesse como água essencial à vida, e dela fizesse a minha inspiração.

Assim ficamos eu e ela, e só me restou as palavras e todo espaço em branco para preencher... infinito...

As palavras me acompanham nessa luta, mas muitas vezes elas também fogem. Faltam palavras para expressar o que sinto, esse nó na garganta que desce para meu peito e me aperta, como se meu coração ficasse menor, fazendo o sangue escorrer devagar pelas minhas veias, como se um fino ferro fervente corresse pelo meu corpo.

A minha vida passa sem sentido, à procura de paz, à procura do que me falta para sentir-me completa, preenchida. Quero aprender a ser feliz apenas comigo mesma, encontrando em mim a melhor companhia.

Nesses momentos em que me deixo levar pela dor, começo a sentir a falta de todos aqueles que fazem parte da saudade profunda que sinto dos que se foram.

E tudo me falta de maneira tão dolorida... O carinho de mãe, o colo de vó, as histórias de vô, as brincadeiras de irmãos, as comidinhas do pai, o pão de queijo da tia, as conversas com as melhores amigas. E os irmãos que encontrei pelo caminho e achei que fossem pra sempre.

E o que fica são memórias de bons momentos vividos, mas a lembrança de que sempre me faltou algo.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Claramente

Eu quero a clareza
dos fatos, dos atos,
clarificar a mente.

Eu quero a clareza
de ideias e de expressão.
Esclarecer...

Eu quero o calor e o clarão do sol
para aquecer no frio,
para iluminar a escuridão.

E a claridade do sol
para acender a manhã
e clarear os pensamentos.

Eu quero a claridade dos rios límpidos,
a pureza e a transparência
das águas claras.

Eu quero a claridade
do teu sorriso
preenchendo as clareiras da minha vida.

Eu quero o dia, e não a noite
A clareza
para afastar as trevas.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A viagem na literatura

Sem tempo para colocar aqui textos artísticos, compartilho com vocês alguns pensamentos críticos sobre a literatura.
Segue o link de um artigo meu publicado na revista Urutágua da UEM, no qual discuto a importância da viagem para a literatura, e, em especial, na literatura de João Guimarães Rosa.
Assim que minha dissertação acabar, volto à ativa!
Abraços a todos!
http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/Urutagua/article/view/9532/6308

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Para não passar em branco... política segundo Guimarães Rosa

Como não estou tendo tempo de manter o blog atualizado, nem de me expressar como eu queria, devido à fase final da minha dissertação de mestrado, vou postar algo relativo a ela. Já que ela me consome e consome meu tempo, vou partilhar com todos os seus bons frutos .
Para não ficar alheia ao ano eleitoral, vou transpor uma passagem da entrevista de Guimarães Rosa a Günther Lorenz na qual ele coloca sua posição diante da política. Embora o escritor tenha sido diplomata, não considerava-se um político, pois não concordava com a postura da maioria deles na época. Afinal, para ele, o político não pensa no homem e seu futuro, já o escritor, acredita no homem e na ressurreição do homem.


"... um diplomata é um sonhador e por isso pude exercer bem essa profissão (...)... eu jamais poderia ser político com essa constante charlatanice da realidade. O curioso no caso é que os políticos estão sempre falando de lógica, razão, realidade e outras coisas no gênero e ao mesmo tempo vão praticando os atos mais irracionais que se possam imaginar. Talvez eu seja um político mas desses que só jogam xadrez, quando podem fazê-lo a favor do homem. Ao contrário dos 'legítimos' políticos, acredito no homem e lhe desejo um futuro. Sou escritor e penso em eternidades. O político pensa apenas em minutos. Eu penso na ressurreição do homem".
(Coutinho, 1983:77-78)

Se ainda tivermos políticos que realmente pensam na humanidade e no nosso futuro, talvez haja esperança de um futuro melhor.

sábado, 28 de agosto de 2010

Choro das águas

Posso ouvir agora o barulho das águas
que caem como frios véus,
como o choro sentido das montanhas...

Há quanto tempo não sinto o frescor das cachoeiras...
Água corrente e intensa
que limpa a alma e a mente.

O relaxamento e a paz
oferecidos gratuitamente pela natureza
mas que não sinto há tantos anos.

Hoje sei que é preciso aproveitar a vida
nos seus detalhes...

19 julho 2010.

domingo, 8 de agosto de 2010

A noiva

“Os noivos convidam para a cerimônia de seu casamento a realizar-se no dia...” dizia o convite que Núbia revisava na gráfica. Ficaram como ela esperava, agora era começar a maratona da entrega dos convites de casamento que deveriam ser entregues em mãos, conforme manda a etiqueta, e como ela queria carinhosamente cumprir a regra.
Convites impressos, Núbia segue para casa pensando em todos os detalhes para o grande dia, afinal, nos pensamentos de uma noiva só há lugar para o casamento. Começa a refletir como passou rápido o noivado, aliás, como passou rápido toda a sua vida, desde a infância, quando brincava de casar suas bonecas Barbie com os seus “Bobs” e “Kens”, depois, quando adolescente, achava que o primeiro garoto que a beijasse seria aquele com quem ela se casaria, teria muitos filhos e seria feliz para sempre! Todos os outros fatos que vivenciara até aquele momento significavam tão pouco perto do grande acontecimento que viria. Sua vida começaria agora...
Tantos detalhes deveriam estressá-la, mas, ao contrário, enchiam-na de uma delicada felicidade, suave como o véu que cobriria os seus ombros dentro de trinta dias. Saiu da gráfica e depositou delicadamente os convites no banco de trás de seu carro, como quem coloca para dormir seu bebê recém-nascido. Em seus pensamentos todos os detalhes eram repassados para certificar-se se estava tudo em ordem: “checar a lista de convidados, o bolo, os doces... e o vestido será que é esse mesmo? E o véu? Longo ou curto? Usarei véu? Sim, claro, foi assim que imaginei desde menina. Uma noiva que se preze tem de ter véu e grinalda! Será que me esqueci de convidar alguém? Sempre se esquece de alguém importante... Preciso reservar o hotel, lua-de-mel, passagem. Os documentos para o cartório. Mudarei meu nome de família? Não sei, trata-se de minha identidade, minha história... Mas minha história recomeça agora... Buquê, brincos, arranjos, cor da festa, o carro da noiva, o cabelo, a maquiagem, as luzes, a Igreja, a Ave Maria de Gounod, já posso ouvir, Ave Maria... luzes, tanta luz, o branco, o vestido, branco... tudo branco... De repente, a claridade da paz.
Os policiais encontraram os convites de casamento espalhados pela rodovia. O noivo sabia que o maior desejo da amada era casar-se de branco. Então, decide realizar o último desejo da amada, mesmo que não fosse ele quem a desposasse. E vestida de noiva, ela deixou-se desposar pela eternidade.
Aline Maria Magalhães
Outubro de 2009.