segunda-feira, 21 de abril de 2014

SINAL


Essa ruga em meu rosto
Não é da idade
É desgosto,
Desencanto
Lamento
Prantos
E noites em branco...

Ela é um sinal
Não do tempo decorrido
Mas do tempo mal vivido
Dos dissabores da vida
Que passam deixando sua marca
Não no corpo
Mas na alma.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Os cacos de minha história

Vaga lembrança
de uma memória em farrapos.
Fiapos, apenas
fios soltos da memória,
vão costurando histórias
que formam uma colcha de retalhos.
Sem forma exata,
sem cores vivas.
Apenas uma colcha velha
para se cobrir nos dias frios.
Sem graça ou harmonia,
apenas para aquecer,
para não perceber
os cacos de minha história.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Diálogo da alma


Percebe o silêncio?
Nele há mais vida
Que na cidade cheia de pessoas, carros, ruídos, vozes
Nele há mais sinceridade
Que numa conversa entre amigos
Porque no silêncio ecoa
A sinceridade dos pensamentos,
O sopro mais puro de vida,
O diálogo da alma...

14/01/2014

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Publicação na editora Mosarte

Caros:
É com felicidade que informo que alguns dos textos publicados neste blog agora fazem parte de uma coletânea de textos da Editora Mosarte. A coletânea intitulada No espaço e no tempo traz textos inéditos de jovens escritores, constituída pelo que os editores chamam de "mosaico de estilos e gêneros literários diversos".
É a primeira publicação em livro impresso desta autora.

Agradeço a todos que foram os primeiros leitores dessa pulsão de narrar, e à Editora Mosarte pela oportunidade dada aos anônimos amantes das letras.

Abraços a todos!

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

PLENA PAUSA

Um homenagem às minhas páginas em branco que gritam e esperam por mim... peço que me aguardem e me perdoem!

PLENA PAUSA

Lugar onde se faz
o que já foi feito,
branco da página,
soma de todos os textos,
foi-se o tempo
quando, escrevendo,
era preciso
uma folha isenta.
Nenhuma página
Jamais foi limpa
Mesmo a mais Saara,
ártica, significa.
Nunca houve isso,
uma página em branco.
No fundo, todas gritam,
pálidas de tanto.

(LEMINSKI, 2002, p.29)

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Aos trinta anos



Havia apenas uma semana que eu tinha completado trinta anos e precisei, por motivos burocráticos, ver a certidão de óbito de minha mãezinha. Foi então que eu me assustei: ela faleceu aos trinta anos.
Uma sensação de finitude tomou conta de meus pensamentos, de todo meu ser, e um calafrio percorreu o meu corpo. Não era o medo apenas da morte inesperada chegar até mim. Era o medo dela me encontrar sem ter vivido, sem ter sonhado, sem ter produzido ou deixado um legado neste mundo. Afinal, quando mamãe faleceu, ela já tinha três filhos e eu não tenho nenhum; ela já era uma mulher vivida, enquanto eu ainda me sinto uma jovem garota.
            Mamãe tinha muito medo do envelhecimento, das rugas, das marcas do tempo e da gravidade. Eu não me lembro dela, mas as histórias que me contaram sempre retrataram alguém muito vaidosa e bonita. Talvez por isso ela tenha morrido tão jovem... De certo modo teve seu pedido atendido, porque ela foi levada ao céu antes que os dedos do tempo tocassem sua face perfeita.
            O meu temor não é o passar do tempo e a vaidade de ver os anos levarem a juventude de nosso rosto. Meu medo sempre foi o de passar por essa vida sem produzir, sem deixar um legado e por isso cair no esquecimento. Passar por esse mundo sem deixar alguém que se lembre de nós, para permanecermos vivos nessas memórias. Minha mãe revive hoje quando eu escrevo. E reviverá cada vez que alguém se lembrar dela. Porque hoje, sem nenhuma foto guardada e sem memória de seu rosto, o que faz com que ela seja lembrada são suas histórias e seus genes no meu corpo. Dizem que sou muito parecida com ela. Então, para aqueles que com ela conviveram, olhar no meu rosto é relembrá-la, e assim ela vive mais uma vez na lembrança daquele que me olhou. Eu sou, assim, um pouco dela, um pouco de história e memória.

            Eu já sabia – aliás, desde de Balzac -  que os trinta anos eram significativos na vida de uma mulher, que era o marco de sua maturidade, da busca de felicidade de realizações pessoais. Para mim, essa idade adquiriu maior significância depois que descobri que foi a idade fatal para minha mãe. Apresentou-se como um aviso de que a vida passa rápido demais, de que juventude de nada vale se não houver uma história bem vivida, se não deixarmos vestígios de uma existência nesta terra. Hoje, vivo com uma ansiedade de fazer tudo acontecer rapidamente, de viver intensamente todas as experiências que a vida pode proporcionar, como quem tem uma sentença de morte, uma doença incurável, poucos dias de vida. Beijo meu marido todos os dias pela manhã como se nunca mais fosse vê-lo. Respondo aos meus amigos com a intensidade de sentimentos de quem se comunica pela última vez. E agradeço a cada amanhecer pela simples oportunidade de ver um novo dia.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Com Roberto Drummond


Recordo-me da primeira vez que tive um encontro com um verdadeiro escritor. Eu era apenas uma adolescente cheia de sonhos e de uma vida a acontecer, que estava empolgada com meu primeiro prêmio de crônicas e poesias que havia ganhado numa seletiva local. Foi então que conheci Roberto Drummond em um evento literário “O escritor por ele mesmo”. Ao final do encontro, enchi-me de coragem e falei para ele que eu escrevia algumas coisinhas e que gostaria muito de ser escritora um dia. Ele me autografou um CD de leituras de trechos de sua obra dizendo: “Para Aline, esperando um livro seu”. Eu realmente saí daquele evento acreditando que um dia eu levaria para ele uma publicação minha e diria que ele me inspirou a acreditar.  Mas ele já faleceu há muitos anos e eu deixei de acreditar em minha publicação.
Com o passar dos anos, a gente deixa de acreditar nos sonhos e fica cada vez mais crítico quanto ao que fazemos. Quanto mais eu estudei literatura, menos literatura produzi. Quanto mais leituras eu fiz, mas vi como meus escritos se distanciam da obra de arte. E por muitos anos neguei a folha em branco.
Mas a necessidade de escrever incomoda e cresce dentro do escritor. Eu chamo de uma pulsão narrativa vontade de narrar, de contar, mesmo que não seja apresentado a ninguém. É como uma necessidade vital de libertação, de rememoração, de conhecimento de si, dos outros, do mundo, de organizar suas memórias, ou de criar memórias do gostaria que tivesse sido a vida. É quase patológica a necessidade de escrever.
Essa pulsão é o que nos faz superar o medo da publicação. Porque publicar é expor-se à crítica, e o ser humano tende a uma necessidade imensa de aprovação. Eu queria ter tido a aprovação de Roberto Drummond e, naquele dia, ele aprovou-me previamente, muito antes de ter lido qualquer coisa que eu tivesse escrito. Ele aprovou o meu sonho, a minha coragem, o meu desejo de escrever.  
O que impediu meu sonhos de florescer foram meus medos. Mas nenhum de meus medos supera a angústia do silêncio. Descobri assim que, na verdade, o que me assusta não é o medo da desaprovação, da exposição dos sentimentos de nossa história pessoal. O que mais me assusta é o indizível, toda espécie de sensação que não encontra nas palavras substância suficiente para expressá-la. O que me assusta é o silêncio.