quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Casa de vó

 

O cheiro do café passado no coador

Esperando a casa acordar

A goiabada cascão mole

Pra passar no pão

Pão doce e fofo

Como as mãos que o amassaram.

 

A varanda pra quentá sol depois do almoço

Olhar a rua

Falar da vida

Olhar para as montanhas

Ouvir histórias.

 

O fogão à lenha

Feito de barro e pelas mãos da vó

Meu fogãozinho de brinquedo, igual, fazendo fumaça

E assando bolo de barro.

 

As galinhas cacarejando

E a gente, criança, pegando o ovo quentinho

A goiaba no pé

E o medo do bicho da goiaba.

 

O colo da vó...

Suas pernas curtinhas serviam de escorregador 

Na saia lisa feita por ela

As meias quase sempre rasgadas nas havaianas azuis

A tesoura que recortava um papel que fazia mil menininhas de mãos dadas.

 

Os programas de culinária que víamos juntas

E as receitas que nunca fazíamos

Os conselhos que ela me dava

 E eu nunca ouvia

Tanta sabedoria

Que só agora eu soube

E sinto.

 

O riso contido

O olhar perdido

As histórias guardadas

Caladas

Suas dores solitárias

Ainda pulsam

Nas paredes da casa.


Aline Magalhães