quinta-feira, 31 de março de 2011

O que me falta

A solidão me persegue a vida toda. Apaixonada por mim, não me deixa onde quer que eu vá. Mesmo quando encontrei um verdadeiro amor e achei que, tendo alguém comigo todos os dias de minha vida, eu jamais estaria só, ainda assim, ela encontrou forças para me arrebatar.

E fez uma troca comigo: consegui um amor e perdi todos os amigos. Ela me exilou na mais bela cidade do mundo, para que eu a encontrasse como minha companheira, e dela bebesse como água essencial à vida, e dela fizesse a minha inspiração.

Assim ficamos eu e ela, e só me restou as palavras e todo espaço em branco para preencher... infinito...

As palavras me acompanham nessa luta, mas muitas vezes elas também fogem. Faltam palavras para expressar o que sinto, esse nó na garganta que desce para meu peito e me aperta, como se meu coração ficasse menor, fazendo o sangue escorrer devagar pelas minhas veias, como se um fino ferro fervente corresse pelo meu corpo.

A minha vida passa sem sentido, à procura de paz, à procura do que me falta para sentir-me completa, preenchida. Quero aprender a ser feliz apenas comigo mesma, encontrando em mim a melhor companhia.

Nesses momentos em que me deixo levar pela dor, começo a sentir a falta de todos aqueles que fazem parte da saudade profunda que sinto dos que se foram.

E tudo me falta de maneira tão dolorida... O carinho de mãe, o colo de vó, as histórias de vô, as brincadeiras de irmãos, as comidinhas do pai, o pão de queijo da tia, as conversas com as melhores amigas. E os irmãos que encontrei pelo caminho e achei que fossem pra sempre.

E o que fica são memórias de bons momentos vividos, mas a lembrança de que sempre me faltou algo.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Claramente

Eu quero a clareza
dos fatos, dos atos,
clarificar a mente.

Eu quero a clareza
de ideias e de expressão.
Esclarecer...

Eu quero o calor e o clarão do sol
para aquecer no frio,
para iluminar a escuridão.

E a claridade do sol
para acender a manhã
e clarear os pensamentos.

Eu quero a claridade dos rios límpidos,
a pureza e a transparência
das águas claras.

Eu quero a claridade
do teu sorriso
preenchendo as clareiras da minha vida.

Eu quero o dia, e não a noite
A clareza
para afastar as trevas.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A viagem na literatura

Sem tempo para colocar aqui textos artísticos, compartilho com vocês alguns pensamentos críticos sobre a literatura.
Segue o link de um artigo meu publicado na revista Urutágua da UEM, no qual discuto a importância da viagem para a literatura, e, em especial, na literatura de João Guimarães Rosa.
Assim que minha dissertação acabar, volto à ativa!
Abraços a todos!
http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/Urutagua/article/view/9532/6308

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Para não passar em branco... política segundo Guimarães Rosa

Como não estou tendo tempo de manter o blog atualizado, nem de me expressar como eu queria, devido à fase final da minha dissertação de mestrado, vou postar algo relativo a ela. Já que ela me consome e consome meu tempo, vou partilhar com todos os seus bons frutos .
Para não ficar alheia ao ano eleitoral, vou transpor uma passagem da entrevista de Guimarães Rosa a Günther Lorenz na qual ele coloca sua posição diante da política. Embora o escritor tenha sido diplomata, não considerava-se um político, pois não concordava com a postura da maioria deles na época. Afinal, para ele, o político não pensa no homem e seu futuro, já o escritor, acredita no homem e na ressurreição do homem.


"... um diplomata é um sonhador e por isso pude exercer bem essa profissão (...)... eu jamais poderia ser político com essa constante charlatanice da realidade. O curioso no caso é que os políticos estão sempre falando de lógica, razão, realidade e outras coisas no gênero e ao mesmo tempo vão praticando os atos mais irracionais que se possam imaginar. Talvez eu seja um político mas desses que só jogam xadrez, quando podem fazê-lo a favor do homem. Ao contrário dos 'legítimos' políticos, acredito no homem e lhe desejo um futuro. Sou escritor e penso em eternidades. O político pensa apenas em minutos. Eu penso na ressurreição do homem".
(Coutinho, 1983:77-78)

Se ainda tivermos políticos que realmente pensam na humanidade e no nosso futuro, talvez haja esperança de um futuro melhor.

sábado, 28 de agosto de 2010

Choro das águas

Posso ouvir agora o barulho das águas
que caem como frios véus,
como o choro sentido das montanhas...

Há quanto tempo não sinto o frescor das cachoeiras...
Água corrente e intensa
que limpa a alma e a mente.

O relaxamento e a paz
oferecidos gratuitamente pela natureza
mas que não sinto há tantos anos.

Hoje sei que é preciso aproveitar a vida
nos seus detalhes...

19 julho 2010.

domingo, 8 de agosto de 2010

A noiva

“Os noivos convidam para a cerimônia de seu casamento a realizar-se no dia...” dizia o convite que Núbia revisava na gráfica. Ficaram como ela esperava, agora era começar a maratona da entrega dos convites de casamento que deveriam ser entregues em mãos, conforme manda a etiqueta, e como ela queria carinhosamente cumprir a regra.
Convites impressos, Núbia segue para casa pensando em todos os detalhes para o grande dia, afinal, nos pensamentos de uma noiva só há lugar para o casamento. Começa a refletir como passou rápido o noivado, aliás, como passou rápido toda a sua vida, desde a infância, quando brincava de casar suas bonecas Barbie com os seus “Bobs” e “Kens”, depois, quando adolescente, achava que o primeiro garoto que a beijasse seria aquele com quem ela se casaria, teria muitos filhos e seria feliz para sempre! Todos os outros fatos que vivenciara até aquele momento significavam tão pouco perto do grande acontecimento que viria. Sua vida começaria agora...
Tantos detalhes deveriam estressá-la, mas, ao contrário, enchiam-na de uma delicada felicidade, suave como o véu que cobriria os seus ombros dentro de trinta dias. Saiu da gráfica e depositou delicadamente os convites no banco de trás de seu carro, como quem coloca para dormir seu bebê recém-nascido. Em seus pensamentos todos os detalhes eram repassados para certificar-se se estava tudo em ordem: “checar a lista de convidados, o bolo, os doces... e o vestido será que é esse mesmo? E o véu? Longo ou curto? Usarei véu? Sim, claro, foi assim que imaginei desde menina. Uma noiva que se preze tem de ter véu e grinalda! Será que me esqueci de convidar alguém? Sempre se esquece de alguém importante... Preciso reservar o hotel, lua-de-mel, passagem. Os documentos para o cartório. Mudarei meu nome de família? Não sei, trata-se de minha identidade, minha história... Mas minha história recomeça agora... Buquê, brincos, arranjos, cor da festa, o carro da noiva, o cabelo, a maquiagem, as luzes, a Igreja, a Ave Maria de Gounod, já posso ouvir, Ave Maria... luzes, tanta luz, o branco, o vestido, branco... tudo branco... De repente, a claridade da paz.
Os policiais encontraram os convites de casamento espalhados pela rodovia. O noivo sabia que o maior desejo da amada era casar-se de branco. Então, decide realizar o último desejo da amada, mesmo que não fosse ele quem a desposasse. E vestida de noiva, ela deixou-se desposar pela eternidade.
Aline Maria Magalhães
Outubro de 2009.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O inenarrável

A palavra pulsa em meu corpo
E a necessidade de narrar me inquieta
As palavras teimam em fugir de meus pensamentos
Para ocupar a folha em branco
Mas palavras são teimosas
Teimam em ser inexatas
E muitas vezes é justamente o inenarrável
Aquilo que eu queria dizer.