Hoje eu fui acordada pelo cantar de um galo à beira da minha janela, logo na primeira manhã das minhas férias em Minas.
Seu canto me despertou para as memórias de infância e num instante pareceu que o passado se fez presente. Eu podia ouvir a voz rouca de minha avó conversando na cozinha, ao lado do velho rádio chiado. Eu podia até mesmo sentir o cheiro doce do café com leite que ela preparava, e que parecia ser o único motivo a me fazer levantar da cama quentinha e enfrentar o frio da manhã de inverno.
Senti que aquele canto do galo era um privilégio meu naquela manhã. Apesar de que, mesmo morando na capital, ainda tenho o prazer de receber a visita dos beija-flores e canarinhos que vem cantar em minha janela, enamorados da água doce que deixo para eles todos os dias. Mesmo assim, o canto daquele galo me pareceu um som inusitado para quem há tempos não o ouvia de tão perto.
E esse som é também o som de minha infância, das noites de "posar" na casa da vó e encontrar as primas. De comer as quitandas gostosas, o pão fresquinho, a goiabada mole dentro do pão. De subir na goiabeira pra brincar de esconde-esconde, e nos intervalos provar da fruta madura.
E é por isso que esse canto rouco ainda é para mim uma doce nostalgia.