Essa cidade me consome... Consome cada minuto de minha vida com o trabalho, perdendo tempo em seu trânsito infinito, ocupando minha mente com preocupações do cotidiano.
Pouco tempo me resta para refletir comigo mesma, para dar vazão aos meus pensamentos ou para deixar transparecer minha "pulsão narrativa"... Assim, esse desejo incômodo de escrever vai sendo adiado pela falta de tempo e pelo cansaço, físico e mental.
Essa cidade me esgota.. Parece sugar todas as minhas energias, minhas forças parecem estar voltadas para as necessidades básicas da vida, mas dentro de mim palpita a necessidade de buscar a poesia da vida, extrapolar o cotidiano através da narrativa.
E quando leio grandes obras de autores mineiros que viveram no Rio de Janeiro - principalmente de Drummond e Rosa - vejo como essa cidade foi inspiradora para o trabalho deles, como cada esquina tinha poesia para seus olhares, a brisa do mar, o céu azul, a paisagem carioca, tudo se transformou em poesia, em narrativa em suas mãos.
Hoje, nada disso transparece em meu olhar. Pareço viver em outro Rio de Janeiro, que não aquele em que eles viveram. Sim, os tempos são outros, as coisas são mais difíceis, o trânsito mais intenso, a vida mais corrida. Contudo, mesmo assim,o escritor consegue enxergar no seu cotidiano matéria viva para seus escritos, o que me leva a concluir que talvez não seja a cidade que me sufoca, mas que eu sufoco em mim a pulsão de narrar, e, assim, morre a cada dia um pouco de uma escritora que nunca chegou a brotar...