Voltar às origens nos faz perceber o quanto a distância nos modificou. Aquele que deixa sua cidade natal, seu berço, sente uma saudade imensa de detalhes do cotidiano – broa de fubá, doce de leite caipira, pamonha de feira, biscoito de polvilho... Doce sabor de infância! Quentão de festa junina, cocada de festa de São Benedito, garapa da praça... A rua enfeitada pelas quaresmeiras em flor, o colorido dos ipês e seu tapete de flores efêmeras caídas ao chão. O frescor da água mineral tomada direto da mina.
Quando percebemos que todas essas coisas que no passado fizeram parte do cotidiano agora se tornaram especiais, pedaços de memória, doces lembranças, aí a gente percebe que se tornou um pouquinho estrangeiro, porque olha sua casa com olhos de visitante, de turista, que admira aquilo que é diferente, exótico, o que não encontra igual em sua terra.
E como também nos sentimos estrangeiros na terra adotiva, percebe-se que se é estranho em todo lugar, e que já não há mais um lugar para se chamar de seu.
Perde-se a casa, um pouco da identidade, e vive-se sempre à espera de um retorno – mas pra onde?
“O homem que acha a sua pátria agradável não passa de um jovem principiante; aquele para quem todo solo é como o seu próprio já está forte; mas só é perfeito aquele para quem o mundo inteiro é como um país estrangeiro”.
(Ideal de
Hugues de Saint-Victor, formulado no século XII. In.:
TODOROV, 1988, p.245)