Casa de vó
O cheiro do café passado no coador
Esperando a casa acordar
A goiabada cascão mole
Pra passar no pão
Pão doce e fofo
Como as mãos que o amassaram.
A varanda pra quentá sol depois do almoço
Olhar a rua
Falar da vida
Olhar para as montanhas
Ouvir histórias.
O fogão à lenha
Feito de barro e pelas mãos da vó
Meu fogãozinho de brinquedo, igual, fazendo fumaça
E assando bolo de barro.
As galinhas cacarejando
E a gente, criança, pegando o ovo quentinho
A goiaba no pé
E o medo do bicho da goiaba.
O colo da vó...
Suas pernas curtinhas serviam de escorregador
Na saia lisa feita por ela
As meias quase sempre rasgadas nas havaianas azuis
A tesoura que recortava um papel que fazia mil menininhas de
mãos dadas.
Os programas de culinária que víamos juntas
E as receitas que nunca fazíamos
Os conselhos que ela me dava
E eu nunca ouvia
Tanta sabedoria
Que só agora eu soube
E sinto.
O riso contido
O olhar perdido
As histórias guardadas
Caladas
Suas dores solitárias
Ainda pulsam
Nas paredes da casa.
Aline Magalhães