segunda-feira, 7 de junho de 2010

Aniversário

Aniversários fazem-nos perceber de maneira diferente a passagem do tempo e da vida. Talvez seja por isso que algumas pessoas ficam deprimidas nessa data, porque parece quase inevitável pensar em todos os anos já vividos e planejar ou sonhar com aqueles que ainda virão. Eu fico muito grata pelos dias vividos e as conquistas que vieram da luta.
A passagem do tempo é percebida diferente conforme envelhecemos, porque quando criança, os anos demoravam tanto a chegar, a maioridade parecia algo tão distante no tempo, a escola parecia que era para a vida toda e esperávamos um ano tão longo para chegar o próximo aniversário! Agora, corremos contra o tempo, o tempo que foge acelerado, o dia que parece já não ter 24 horas e os anos passam sem que dê tempo de fazer o planejamos nem de viver bem os dias que correm. A areia do tempo escorre entre os dedos e vivemos apenas os poucos grãos que sobram..
Percebo que estou "amadurecendo" ou envelhecendo - prefiro amadurecer como fruta que fica mais saborosa madura, pois a palavra velho parece ligada ao que não tem mais serventia - quando vejo que o dia do aniversário já não tem mais o significado festivo de antes, apesar de ser muito grata por toda a vida bem vivida até agora.
Parece que ficamos mais reflexivos nesse dia, e uma ponta de tristeza bate ao ver que algumas memórias se tornaram tão longínquas, embaçadas e amareladas pelo tempo... e vem o medo de esquecer do tempo passado, dos detalhes da infância. A memória é traiçoeira, e as lembranças vem e vão quando querem.
Quando olho para trás, parece tanto tempo vivido, mas sou tão jovem ainda...
Já que não posso conter o tempo, espero aprender com a idade a viver melhor cada dia, aproveitar o instante, viver a vida em toda plenitude, preocupando menos com o amanhã.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Volúvel

Volúvel
Deixo o vento me levar.
Me desfaço,
Me dissipo
Não voltarei
Ao que eu era antes...

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Poema antigo

A doce espera do amor!
Os minutos são eternos,
Longos espaços para a saudade morar.

Meu coração abriga o desejo
Do teu retorno aos meus braços,
Reviver nossa paixão!

A vida aqui é monótona,
O tempo parece não passar,
Guardado do futuro, nestas frias montanhas.

Resta apenas a lembrança tua
Doce e antiga
Como flor guardada há anos dentro de um livro.

(Aline Maria Magalhães,
08 julho 2004)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Crônica - Estrangeira


Voltar às origens nos faz perceber o quanto a distância nos modificou. Aquele que deixa sua cidade natal, seu berço, sente uma saudade imensa de detalhes do cotidiano – broa de fubá, doce de leite caipira, pamonha de feira, biscoito de polvilho... Doce sabor de infância! Quentão de festa junina, cocada de festa de São Benedito, garapa da praça... A rua enfeitada pelas quaresmeiras em flor, o colorido dos ipês e seu tapete de flores efêmeras caídas ao chão. O frescor da água mineral tomada direto da mina.
Quando percebemos que todas essas coisas que no passado fizeram parte do cotidiano agora se tornaram especiais, pedaços de memória, doces lembranças, aí a gente percebe que se tornou um pouquinho estrangeiro, porque olha sua casa com olhos de visitante, de turista, que admira aquilo que é diferente, exótico, o que não encontra igual em sua terra.
E como também nos sentimos estrangeiros na terra adotiva, percebe-se que se é estranho em todo lugar, e que já não há mais um lugar para se chamar de seu.
Perde-se a casa, um pouco da identidade, e vive-se sempre à espera de um retorno – mas pra onde?


“O homem que acha a sua pátria agradável não passa de um jovem principiante; aquele para quem todo solo é como o seu próprio já está forte; mas só é perfeito aquele para quem o mundo inteiro é como um país estrangeiro”. 
(Ideal de 
Hugues de Saint-Victor, formulado no século XII. In.: 
TODOROV, 1988, p.245)


quarta-feira, 26 de maio de 2010

Microconto

Os microcontos vêm ganhando força na internet, principalmente com a nova onda do twitter. São contos escritos, em geral, entre 140 a 150 caracteres. O grande desafio é a concisão da narrativa, contar uma história da maneira mais sucinta possível.
É um exercício interessante!
O meu escritor favorito de microcontos é o Carlos Seabra(No twitter: @microcontos/ Blog: http://cseabra.utopia.com.br/microcontos/)
A ABL lançou um concurso entre os "twitteiros", e estou concorrendo com o seguinte microconto:

O mineiro queria conhecer o mar. Decidiu mudar-se, mas, ao comprar as malas, conheceu Marina e afogou-se em seus olhos azuis.



terça-feira, 25 de maio de 2010

Soneto de papai

Hoje lembrei-me do primeiro soneto que eu decorei em minha vida, de autoria de meu próprio pai!
É impressionante que passaram-se mais de 15 anos e eu nunca me esqueci, talvez devido à sonoridade fácil dos decassílabos, ou as rimas perfeitas.
Claro que quando decorei eu ainda era criança para observar se era ou não um soneto e qual a seria a qualidade dele! Para mim, era a poesia do papai e isso já era suficiente!
Pena que meu pai se deixou levar pelo toque do tempo e se desfez de tantos outros poemas. Só restou este, salvo pela memória de infância, que, infelizmente, não guardou o título da poesia.
Mas aí segue o que me lembro:

O gigante que cresce em minh’alma

Me dispõe a procurar com ardor

Um pouco de paz, um pouco de calma

Nas sendas deliciosas do amor.

Amar é a seiva natural da vida

É como beber o vinho que anima

Na alma gêmea da pessoa querida

Sendo feliz, assim, nessa doce sina.

O tempo passa e urge a aproveitar

Cada segundo, sugado para amar

Guardando de bom no coração

Guardando de bom tudo, tudo:

Carinho, amor, olhar mudo

O beijo ardente da paixão.

Leite Derramado


Começo hoje indicando a literatura de Chico Buarque que vem surpreendendo a cada nova publicação. Lendo seus quatro livros: Estorvo (1991), Benjamin (1995), Budapeste (2004) e Leite Derramado (2009), vemos claramente a evolução do escritor, pois cada narrativa parece superar a anterior, e o artista atinge seu auge (por enquanto!) com Budapeste.
Todos os três primeiros livros renderam roteiros para o cinema, mas, sem dúvida, o filme de maior sucesso foi Budapeste. Este, é uma adaptação do livro, e, portanto, quem leu o livro e vê o filme esperando ver exatamente o que encontrou nas letras de Chico vai com certeza se decepcionar. O livro é muito superior ao filme, como quase sempre acontece!
Pode ser que em breve também veremos Leite Derramado nos cinemas, afinal, o nome Chico Buarque já vende por si só!
De todos os quatro, Budapeste parece, ao meu ver (pois não é a opinião de muitos críticos) o melhor e Leite Derramado, apesar de seu inegável valor literário, não consegue superar a arquitetura magistral da narrativa de Budapeste.
No entanto, é dele que quero citar um trecho hoje, que mostra o prazer de ler um poeta/músico escrevendo um romance. Mesmo que a história não seja tão inovadora assim, as felizes escolhas poéticas do escritor e seus narradores apaixonantes e complexos, conferem ao leitor um prazer imenso ao mergulhar em sua literatura:

"Com o tempo aprendi que o ciúme é um sentimento para proclamar de peito aberto, no instante mesmo de sua origem. Porque ao nascer, ele é realmente um sentimento cortês, deve ser logo oferecido à mulher como uma rosa. Senão, no instante seguinte ele se fecha em repolho, e dentro dele todo o mal fermenta." Chico Buarque - Leite Derramado

Sobre o livro, a Globo News fez um especial que vale a pena ver: Segue o link para o vídeo do programa, com leitura de trechos do livro pelo próprio autor.